O mundo da literatura é vasto e diversificado, e muitos talentos brilham intensamente dentro dele. Hoje, temos o privilégio de iniciar uma conversa com uma dessas estrelas literárias, uma poeta cujas palavras têm o poder de encantar e emocionar. Conhecida por suas contribuições para as publicações da Editora Vila Rica, como 'A Antologia Poesias' e 'Doses de Poesia', Suzane Araújo de Oliveira é uma figura notável no cenário literário contemporâneo.
Com uma sólida formação em Letras, habilitada em Língua Portuguesa e Língua Francesa, e enriquecida por uma pós-graduação em Educação a Distância, Suzane também desempenhou papéis cruciais como tradutora, revisora e professora de Redação e Língua Inglesa em renomados cursinhos preparatórios para concursos. Atualmente, ela brilha como professora de Língua Portuguesa, enquanto, ao mesmo tempo, tece os fios da sua jornada como escritora e poetisa. Suas criações literárias encontram abrigo em antologias físicas e virtuais, bem como em revistas digitais de literatura. Nesta entrevista, vamos explorar a mente criativa por trás das palavras de Suzane Araújo de Oliveira e conhecer mais sobre sua jornada literária e inspirações."
ENTREVISTA
1) Qual foi a inspiração por trás de sua contribuição para a "Antologia Uma Dose de Poesia"? Pode nos contar sobre o processo criativo por trás de seu poema?
SUZANE: Em princípio, eu pensei em não participar, pois o meu estilo pessoal de escrita, definitivamente, não é de caráter regional, mas, sim, universalista; com temas que costumam abranger a natureza em geral, os sentimentos e o caráter humano sem quaisquer fronteiras culturais. No entanto, com o passar dos dias, ponderei sobre a gentileza da Editora Vila Rica que, mesmo sendo mineira, resolveu dedicar um selo especial ao Nordeste, pensando certamente em contemplar uma grande gama de escritores de vertente regional com um espaço propício a esse estilo tão característico e tão rico de nossas terras. Diante disso, não quis perder a oportunidade inusitada de me inserir nesse contexto e resolvi, a título de desafio intelectual, escrever algo nesse sentido, o que acabou se revelando uma tarefa bastante divertida, pois a verdade é que eu passei quase toda a minha vida me mudando de cidade e região, devido ao trabalho de meus pais e, posteriormente, de meu marido. Então, a minha origem sempre fora
mesmo caso de polêmica por conta do meu sotaque totalmente miscigenado. Foi a partir deste fato que montei o poema “Origem”, com um tom de troça bastante coloquial e distante do meu estilo formal, mas que serviu bem para expressar como os brasileiros em geral costumam tratar os diferentes. Descobri, ao longo da vida, que o preconceito linguístico acontece de parte a parte em nosso país (não só do Sul contra o Nordeste) e cresci com isso, pois me fez perceber que é uma grande bobagem não valorizar toda a riqueza fonológica e semântica que a Língua Portuguesa nos proporciona por todos os lugares neste imenso e riquíssimo país de proporções continentais! Todos os sotaques são interessantes, todos compõem a nossa variada expressão cultural, merecendo o mesmo respeito, na minha opinião.
2) A "Antologia Uma Dose de Poesia" reúne uma variedade de vozes poéticas. Como você acha que a diversidade de estilos e temas contribui para o apelo desta obra coletiva?
SUZANE: Bem, eu ainda não tive a oportunidade de ler os demais textos que compõem esta antologia, pois ainda não recebi meus exemplares, mas, pela experiência que já tive de contemplar obras regionais clássicas, imagino que ela seja de grande valia, pois a cultura nordestina é riquíssima e há muitos aspectos interessantes e pitorescos a serem explorados, desde os histórico-geográficos
em si até os comportamentais, com seus tipos característicos de personalidades, comidas, linguajar e as narrativas contadas de geração em geração que povoam o interessante imaginário nordestino.
3) Pode compartilhar um pouco sobre como você aborda a escrita de poesia? Existem rituais, inspirações ou técnicas específicas que você utiliza para expressar suas ideias e emoções?
SUZANE: Sim, tudo começa com uma súbita inspiração. Geralmente, estou executando tarefas braçais nesse momento, e me surge na mente livre uma ideia ou imagem que, rapidamente, se traduz em algumas frases. Às vezes, a indução se dá também ao ouvir músicas sem letras (instrumental ou clássica), ao contemplar a janela ou até ao sentir uma brisa ou aroma. Então, caso eu disponha de tempo, largo tudo o que estou fazendo e me sento para escrever. Se eu perco a oportunidade, a ideia se vai e não volta mais... Porém, esse é apenas o ponto de ignição, mas não é o suficiente, é claro. A partir daí, eu me pergunto: qual é a vocação dessa ideia? É o desenvolvimento do tema em si? Se for, eu enveredo por um texto em prosa. Se não, observo: foi a construção semântica que me interessou? A exploração das figuras de pensamento, de palavras ou de sintaxe? As palavras surgiram rimadas? Vale a pena investir no ritmo do poema? Então, saio percorrendo todos os recursos poéticos de que a teoria da versificação oferece para descobrir qual é o caminho que vou seguir. Além disso, escolho o estilo, o grau de formalidade, etc. A partir daí, escrevo os primeiros versos e, se a tendência me levar para o poema tradicional – o que acontece muitas vezes comigo – conto as sílabas poéticas desses versos e começo o maior trabalho, que é o de “transpiração”: encontrar as palavras exatas que façam jus ao conteúdo que quero passar, mas que também componham perfeitamente o mesmo número de sílabas para cada verso, bem como conservem um ritmo fixo entre eles, sem precisar inventar palavras ou subtrair letras de forma totalmente artificial, apenas para conseguir o efeito. Então, uso os recursos previstos quando necessário, tais como a elipse, a crase, o enjambement, etc. Disto, três coisas podem acontecer: o poema flui maravilhosamente e consigo terminar em poucas horas com um resultado satisfatório; o poema é concluído, mas me parece pouco digno de ser levado a sério ou ele empaca em poucos versos e não consigo prosseguir. Então, eu paro e guardo o rascunho. Um dia, bem adiante, eu volto a olhar e, às vezes, ele é melhorado e/ou concluído. Depois de umas três ou quatro tentativas desse tipo ao longo de anos, se ele não sair do lugar, rasgo sem piedade e jogo fora, pois dou imensamente mais valor à qualidade do que à quantidade. É esse o meu processo de escrita poética.
4) Como a poesia e a escrita criativa em geral influenciam sua vida pessoal? Como você encontra um equilíbrio entre sua paixão pela escrita e outros aspectos de sua vida?
Antigamente, eu terminava de escrever e já o enviava em minha inscrição. Porém, percebi que conter o ímpeto e guardá-lo ainda por alguns dias, fazia, por vezes, uma grande diferença entre ter escrito um texto bonzinho e um texto genial..
SUZANE: Eu amo escrever! Porém, tenho muitas atividades outras, relacionadas às minhas profissões, além dos cuidados da família, da casa, etc. Então, eu sigo dois caminhos: o imprevisível de que já falei, que é o da inspiração de momento, mas também tenho o hábito de me sentar em frente ao notebook uma vez por mês num dia sem compromissos (geralmente, um sábado) e de percorrer a internet em busca de novos editais de seleção literária. Vejo quais são os temas propostos, reflito por alguns minutos sobre cada um deles e, a mais das vezes, surge uma inspiração dali que eu aproveito para desenvolver o texto nesse mesmo momento. Antigamente, eu terminava de escrever e já o enviava em minha inscrição. Porém, percebi que conter o ímpeto e guardá-lo ainda por alguns dias, fazia, por vezes, uma grande diferença entre ter escrito um texto bonzinho e um texto genial... Por isso, por mais que eu tenha a tendência de querer enviar logo, eu tento respirar, segurar a impetuosidade, desligo o notebook e deixo para concluir o processo alguns dias depois. E tem dado muito mais certo dessa maneira.
5) A publicação em uma antologia é uma oportunidade única de ter sua obra impressa e compartilhada com um público mais amplo. Como essa experiência afetou você como autor?
SUZANE: Sem dúvida, é maravilhoso tirar lá do fundo da gaveta aquele caderno de escritos de toda uma vida e tê-los reconhecidos por pessoas que valorizam e entendem de Literatura! Eu comecei a participar de concursos ainda na época em que fazia Letras, muito jovem, quando vi, emocionada, o primeiro anúncio de seleção de um Concurso em Ourinhos-SP no Quadro de avisos do Departamento da federal (naquela época, ainda nem sonhávamos com a internet...). Sempre amei poesia e lia muito, mas nunca ousara antes pensar em ser poetisa! Porém, curiosamente, eu havia escrito meu primeiro poema há apenas alguns dias, fruto de uma inspiração estonteante que tive enquanto fazia um trabalho pra universidade: era um domingo de tarde. Minha família tinha saído e fiquei sozinha para concluir o trabalho. Do silêncio de casa, olhei pela janela por uns instantes e me espantei em ver quanta vida havia e quantas cenas se desenrolavam ali, bem diante dos meus olhos! Aquilo tudo me deixou tão absorvida que continuei a olhar: algum dos vizinhos escutava “Smile”, de Chaplin, crianças brincavam no parque, meninos passeavam na calçada, um bolo cheiroso saía do forno, uma moça estava ao telefone na sala, uma senhorinha se balançava na varanda... Enfim, o poema já estava ali, prontinho, pedindo, pelo amor de Deus, para nascer! E foi assim que fiz o meu primeiro “parto poético”: “Retrato de domingo”, um poema todo montado à base de metonímias, que me trouxe a primeira alegria inesquecível de ter sido escolhida e publicada naquele concurso de Ourinhos-SP, embora eu nunca tenha tido o prazer de receber este livro em minhas mãos (mas, guardo até hoje as cartas de lá com a notícia da seleção).
Perguntas Sobre Futuros Projetos:
Depois de participar da "Antologia Uma Dose de Poesia", quais são seus planos futuros em relação à escrita? Existem projetos literários em que você está trabalhando atualmente ou planeja empreender em breve?
SUZANE: Sim, pretendo continuar “garimpando” seleções, mas já comecei também a escrever um romance e alguns livros técnicos de minha área para poder publicar um livro inteiramente meu, oportunamente. Quanto aos meus escritos esparsos, daqui a um ano, no máximo, já terei o suficiente para publicar um livro inteiro só de poemas e outro de contos e crônicas que pretendo lançar mediante interesse de alguma editora (quem sabe, na própria Vila Rica, rs), caso isso venha a ser possível, ou mesmo de forma independente, a depender dos acontecimentos.
Perguntas Sobre o Autor:
Além de ser um autor talentoso, quais são suas outras paixões e interesses na vida?
SUZANE: Eu acredito, do fundo do coração, que só a Educação será capaz de melhorar a vida em nosso país! É por isso que, apesar de também ser graduada em Medicina Veterinária, a qual eu tanto admiro, eu continuo a dar aulas de Língua Portuguesa, que é a base para todas as demais disciplinas e o caminho para fazer evoluir o conhecimento na mente dos alunos. Hoje, vejo a falta de capacidade de interpretar textos como um problema endêmico no nosso país e tento fazer minha parte para suprir essa dificuldade, dentre tantas outras que ocorrem na área. Além disso, amo a natureza, os animais, preocupo-me muito com a questão ambiental no Brasil e atuo sempre que posso para levar esclarecimento com relação a políticas de Meio Ambiente, consequências danosas no ecossistema marinho pelo impacto do lixo, reciclagem, etc. Também adoro música antiga de vários lugares e culturas do mundo e tenho como hobbies a tradução, a leitura e a pintura de aquarelas.
Qual conselho você daria a autores iniciantes que desejam explorar o mundo da poesia e da escrita criativa?
SUZANE: Se me permitem um conselho, eu diria: vão adiante e se aperfeiçoem! Estudem a teoria da literatura, conheçam as escolas literárias, os gêneros textuais, a teoria da versificação, os escritores clássicos de todos os tempos e das principais culturas, pelo menos. Leiam, e leiam muito! A inspiração é mágica e abre portas para o inimaginável, mas um texto não se põe de pé e se impõe no mundo só com ela. As técnicas, as características, os recursos de cada gênero é que vão dar suporte firme às suas criações, pois até para se inventar algo novo e inusitado, é preciso ter conhecimento sobre o que já foi criado até aqui. Também procurem estudar a própria estrutura da Língua Portuguesa, pois qualquer texto, por mais inspirado, inovador e interessante que seja, ficará nodoado e apequenado por deslizes ortográficos, gramaticais ou estilísticos... Portanto, sejam brilhantes e percorram o caminho difícil, mas recompensador do estudo, que lhes dará a base fundamental para chegar aonde quiserem!
Meu Coração
Poesia disponível na Antologia Poesias editora Vila Rica vol.01
Meu coração não quer montanhas-russas,
que sobem e descem rudemente
na anarquia e na inconstância
das emoções...
Meu coração ama a solidez das montanhas,
a firmeza de caráter,
a certeza das planícies e a companhia
das madrugadas...
Meu coração viaja no voo dos patos,
na poesia do vento,
na voz dos eruditos e no ronronado
dos gatos...
Meu coração é coisa simples, regular e modesta.
Não aspira mais que a gentileza,
o carinho e a leveza
da alvorada mestra...
Meu coração sossega na paz,
sorri na esperança e
dorme na segurança
em que se compraz...
Suzane Araújo de Oliveira possui Licenciatura plena em Letras, com habilitação em Língua Portuguesa, Língua Francesa e respectivas Literaturas pela UFPb; terminou Pós-graduação em EAD. Foi tradutora, revisora e professora de Redação e de Língua Inglesa em cursinhos preparatórios para concursos. Atualmente, é professora de Língua Portuguesa, e, em paralelo, é escritora e poetisa, tendo vários de seus textos publicados em antologias físicas e virtuais, bem como em revistas digitais de literatura.
Excelente 👏👏👏 sábias palavras nobre autora 🥰