A literatura sempre foi um reflexo do zeitgeist* de uma sociedade, um espelho de suas aspirações, medos e contradições. No Brasil, um país com uma rica tradição literária, vemos emergir uma nova geração de escritores que, infelizmente, parece se distanciar cada vez mais das raízes que um dia nutriram a grandeza de nossa produção literária.
Os novos escritores, muitos dos quais optam por caminhos independentes ou se inserem em antologias coletivas, mostram uma tendência preocupante: estão deixando de lado o hábito de leitura, essencial para qualquer aspirante a autor. O paradoxo é claro e preocupante: como alguém pode querer se tornar escritor se não cultiva o hábito de ler? Pior ainda, muitos desses escritores não consomem a literatura nacional e, em casos ainda mais graves, sequer leem o que eles mesmos produzem. O resultado? Textos que, na melhor das hipóteses, são medianos, e na pior, verdadeiramente medíocres.
Essa falta de leitura e estudo se reflete diretamente na qualidade das obras produzidas. A ausência de uma base sólida, seja no conhecimento da língua portuguesa, nas técnicas de escrita, ou mesmo na estrutura narrativa, faz com que esses novos autores se afastem ainda mais dos leitores. É quase como se escrevessem para ninguém, pois a desconexão com a tradição literária e com o público é evidente. Não há evolução na escrita, não há refinamento, apenas uma repetição de clichês e fórmulas desgastadas.
O que se vê são textos que carecem de profundidade, de inovação, de qualquer elemento que desafie ou engaje o leitor. A superficialidade reina em um cenário onde a leitura se torna uma atividade secundária, quase irrelevante, para aqueles que desejam apenas o título de "escritor". A consequência é inevitável: uma distância crescente entre escritores e leitores, que encontram nas páginas desses novos livros apenas ecos vazios e narrativas desinteressantes.
A importância do conhecimento básico da língua é inquestionável. Um escritor que não domina a gramática, a ortografia e a sintaxe de sua própria língua está fadado a produzir textos confusos e desleixados. Além disso, a falta de interesse em aprimorar-se, em buscar novas técnicas de escrita, em especializar-se constantemente, acaba por minar qualquer chance de inovação ou criatividade.
Escrever exige mais do que inspiração; exige transpiração, estudo, dedicação. A leitura não é apenas uma atividade complementar à escrita; é seu alicerce, sua fonte de nutrição. Sem ela, o escritor está fadado a repetir fórmulas gastas, a produzir textos vazios e a distanciar-se cada vez mais do leitor. É preciso lembrar que, para ser um bom escritor, é essencial ser, antes de tudo, um bom leitor.
Se a nova geração de escritores brasileiros deseja realmente impactar o cenário literário, precisa urgentemente rever suas práticas. É necessário resgatar o hábito de leitura, investir em estudo e pesquisa, e buscar constantemente o aprimoramento. Somente assim será possível produzir obras que verdadeiramente dialoguem com o leitor, que inovem e que contribuam para a rica tradição literária do Brasil. Caso contrário, corremos o risco de ver nossa literatura se tornar um mar de mediocridade, onde muitos escrevem, mas poucos realmente leem.
***"Zeitgeist" é uma palavra de origem alemã que significa "espírito do tempo" ou "espírito da época". Refere-se ao clima intelectual, cultural, ético e político de uma determinada época ou período histórico. É usado para descrever o conjunto de ideias, valores, crenças e atitudes predominantes em uma sociedade em um dado momento. Em outras palavras, o zeitgeist captura o espírito coletivo de uma época, refletindo o modo como as pessoas pensam e se comportam nesse período.
Adriano Silva é escritor, pós-graduado em Literatura e Crítica da Cultura e editor da Editora Vila Rica.
Realidade triste, diante do universo da literatura que temos e do conhecimento disponível nos dias atuais, que estão em sua maioria acessíveis. Em particular amei o poder na escrita dessa crítica, quero ser assim quando eu crescer ⚜️
Muito profundo, e tristemente real.